Ouvinte impaciente e escuta ativa
É fato que as mudanças ocasionadas devido ao Covid-19 estão presentes em diversas áreas profissionais assim como nas novas formas online de nos relacionarmos com as pessoas.
Neste sentido, além dos outros temas que já abordei em artigos passados, tenho observado um comportamento que estamos colocando muito em prática e que também converso com meus assessorados(as), especialmente neste período de muita conexão e de muitos ‘calls’: estamos sendo ouvintes impacientes e não estamos praticando a escuta ativa.
Exemplos de situações online e presenciais: “Você não me ouve! ou Você não me entendeu!” e você pensa (ou diz): “Mas eu estou ouvindo! ou “Sim, já entendi onde você quer chegar!”. Ou ainda quando alguém está se alongando no discurso e interrompemos pedindo para que conclua logo um pensamento. Certamente já aconteceu com você e comigo também!
Por isso te convido a revermos nossas formas de escutar, adotando mais empatia através da técnica da escuta ativa, buscando tornar-se um ouvinte cada vez mais paciente. Vamos tentar?
Mas, o que é essa técnica da escuta ativa?
É a capacidade de ouvir e compreender uma mensagem que é transmitida por alguém, de forma a demonstrar interesse genuíno pela fala do interlocutor e assim, estabelecendo um vínculo de confiança com o outro. Quando as pessoas se sentem ouvidas, elas tendem a sentir mais valor em uma conversa, sentindo-se também especiais e ficam abertas para o que a outra pessoa tem a dizer, como em um diálogo construtivo.
Torne-se um (a) ouvinte paciente
É fato que as gerações estão cada vez mais imediatistas e ansiosas, além da nossa capacidade de concentração estar cada vez menor. E dados do Spotify mostram que estamos tão impacientes que não aguentamos ouvir uma música inteira: quase 25% de todas as músicas são puladas logo nos 5 primeiros segundos, mais de 33% das canções são ouvidas por apenas 30 segundos, e quase metade de todas as músicas são puladas em algum momento antes do final.
Se as músicas são puladas em apenas 5 segundos, imagine a concentração ao falar com uma pessoa?!
Dicas para desenvolver a escuta ativa e ser um (a) ouvinte paciente
Concentre-se
Esteja presente totalmente naquele momento, com plena atenção, faça anotações, se quiser. Afinal, ao mesmo tempo em que aquele momento não voltará nunca mais, se os dois lados se ouvirem com interesse genuíno se lembrarão para sempre daquela boa conversa. Preste bastante atenção ao que a outra pessoa está dizendo, por mais que se sinta tentado a deixar sua mente divagar. Tente ao máximo, também, ser paciente com alguém que está falando muito devagar ou gaguejando na hora de transmitir sua mensagem. De quem você se lembra quando pensa em alguém que te ouve com atenção?
Reconfirme
Para mostrar que entendeu, repita de vez em quando o que a outra pessoa está dizendo. Depois de ter pegado o ritmo da fala de seu interlocutor, você deve ser capaz de fazer isso sem parecer interrompê-lo. Por exemplo: “Deixa eu ver se estou entendendo sua ideia: você está me dizendo que…” ou “você quer dizer que…”.
Espere
Numa conversa, a paciência é uma virtude e a interrupção, um pecado. Experimente também ser mais paciente que o habitual e você verá que assim poderá escolher melhor em qual “batalha” entrar e investir suas energias. Este vejo como um dos pontos mais críticos na comunicação emissor-receptor e por isso, esteja preparado e planeje esperar de forma consciente. Muitas vezes não falar nada, não emitir alguma opinião ou julgamento pode ser uma boa estratégia de comunicação, deixando o interlocutor ouvir-se enquanto fala e também tirar suas próprias conclusões.
E caso um dos lados se alongue além do esperado ou até mesmo fuja do assunto principal, intervenha interrompendo educadamente e trazendo de volta a razão da conversa.
Pergunte
Se você não entendeu alguma coisa, peça uma nova explicação ou um novo exemplo, com calma, com paciência na fala, “olhando no olho” e atenção genuína. Inclusive as ferramentas de comunicação online possuem diversas opções de colaboração que organizam muito bem as perguntas e respostas.
Tenha clareza a respeito do propósito e sobre aonde você quer chegar com aquela conversa pois quem tem maior consciência tem a responsabilidade de fazer com que o diálogo alcance a melhor solução possível para ambos os lados.
Ouça sem julgar ou opinar
Este também é um dos momentos que mais gera conflitos na comunicação e por isso esteja pronto para ouvir de verdade. Evite cair na tentação de julgar, criticar, tirar conclusões precipitadas, de preconceituar, discriminar ou ser intolerante. Adote uma postura compreensiva e de alguém com disponibilidade para ajudar a encontrar as soluções positivas para aquela situação. Monja Coen em seu livro “A Sabedoria da Transformação” cita como seu mestre de transmissão respondia com sabedoria quando encontrava alguém com opiniões muito diferentes da dele, apenas dizia: “Essa maneira de pensar também existe. Interessante.” Não discutia. Era respeitado e ouvido por todos.
Responda
Responder não são apenas palavras, é também uma linguagem corporal positiva para mostrar que você está prestando atenção, mesmo que online. Incline-se ligeiramente na direção de quem está falando e reaja ao que a pessoa disser com um meneio de cabeça, um sinal positivo, um arquear de sobrancelhas ou apenas um sorriso breve. Troque pontos de vista, convergentes ou divergentes, ou até mesmo mude de opinião após aquela conversa construtiva que ficará na memória por muito tempo. A psicologia diz, inclusive, que discordar não é deixar de existir.
Para finalizar, convido você a fazer este exercício comportamental: experimente durante esta próxima semana fazer algumas ações para que você possa ser mais ouvinte paciente. É um exercício “interno”, pessoal, escolha situações, pessoas, momentos para fazê-lo de forma consciente, com atenção plena. Acompanhe estas dicas para te ajudar neste exercício:
- Quando estiver em reunião ou conversando com alguém, apenas ouça o que ela tem a dizer. Não responda de primeira.
- Fique em SILÊNCIO por algum tempo enquanto ouve. Dê este pequeno espaço de tempo, sem falar nada. Esta pequena ação permite você ouvir “no presente” e te dá liberdade para construir uma melhor resposta;
- Veio aquela sensação de “estou perdendo a atenção”, reflita e tente entender o porquê e o que desencadeou esta desmotivação no seu ouvir;
- Fale COM a pessoa e não apenas com quem quer FALAR qualquer coisa;
- Está ao seu alcance responder ou fazer algo de forma positiva e construtiva para aquela pessoa, naquele momento, naquela conversa?
- Quais resultados diferentes você alcançou ouvindo com mais atenção?
Depois de ter feito o exercício por algumas vezes, compartilhe comigo como foi essa experiência e quais resultados alcançou.