Conheça o Caminho brasileiro de Santiago de Compostela.

Sim, existe um! Se você, assim como eu, ainda não conhecia sobre o Caminho brasileiro de Santiago de Compostela, acompanhe este novo artigo falando sobre minha experiência em completá-lo.

Eu já tinha ouvido e lido sobre o Caminho brasileiro de Santiago de Compostela, que fica na cidade de Florianópolis, Santa (e bela!) Catarina, Brasil, mas ainda não tinha entendido realmente o que era. Se era apenas uma ideia, um projeto em andamento, uma “fake news”. Ou se, por outro lado, era oficial mesmo, quantos quilômetros, em quantos dias, graus de dificuldade e altimetria, quais albergues se hospedar, quais cafés parar, e se teria o mesmo espírito dos diversos Caminhos de Santiago na Europa.

Após assistir a mais uma super palestra organizada pelo Curitigrinos em agosto/2022, no qual sou associada desde 2018, e que foi ministrada pelo presidente na época Papael kozechen, onde ele trouxe informações claras e verídicas sobre este Caminho (e outros tantos!), me inspirei, renasceu a vontade de fazer mais um Caminho, e guardei com carinho comigo todas aquelas dicas para um dia fazê-lo também.

Como eu tinha um plano A para fazer no Feriado de 7 de setembro que acabou não se concretizando, convidei meu marido – de última hora – para passarmos o Feriado em Florianópolis para comemorarmos meu Aniversário (08/09) e ainda fazermos o Caminho de Santiago brasileiro juntos!

Já tínhamos tido uma primeira experiência maravilhosa (e com equipamentos adequados) desde quando fizemos juntos 124 km do Caminho de Santiago Português em julho de 2018, caminhando a pé e com mochila por 5 dias, saindo de Valença do Minho/Tui, exatamente na fronteira Portugal/Espanha, até a Catedral de Santiago de Compostela na Espanha.

Por isso foi relativamente fácil e tranquilo organizar tudo em menos de 1 semana, também porque estávamos fazendo caminhadas pelo bairro com frequência, e eu recomecei os treinos de corrida recentemente. Conversei com amigas e amigos peregrinos para saber quem já tinha feito, como foi e pedir dicas práticas, pesquisei mais na internet e conversei também com antecedência com o pessoal da ACACSC –  Associação Catarinense dos Amigos do Caminho de Santiago de Compostela, que me atendeu prontamente, tanto por email quanto por telefone, para tirar dúvidas finais. Meu muito obrigada, José Alves! 😉

E já contando um pouco mais sobre a história da criação do Caminho brasileiro de Santiago de Compostela para você também saber mais, resumidamente: ele foi reconhecido em 07 de fevereiro de 2017 pela Catedral de Santiago de Compostela, e oficialmente integrado como um trajeto no Brasil, em Florianópolis, com 21 km, que pode ser feito entre 6h e 8h de caminhada, em 1 dia, e onde é recomendado o uso de botas de trilha, bastões e uma mochila pequena. Por sua vez ele é uma etapa complementar ao trajeto histórico espanhol de 80 km, da cidade de A Coruña a Santiago de Compostela, para assim totalizar os 100 quilômetros exigidos, no mínimo, para o recebimento da Compostela, o certificado de peregrinação espanhol, em Santiago. Quer saber mais? Acesse: https://amigosdocaminho.com.br/caminhos/caminho-brasileiro-santiago-compostela/

Em tempo, compartilhando por aqui para colegas peregrinas e peregrinos mais experientes, minha principal dúvida era se a credencial espanhola poderia ser usada também para a obtenção dos carimbos em cada etapa do Caminho brasileiro, ou não, se deveria ser usada apenas a credencial brasileira. Dúvida esclarecida: ter a credencial brasileira para fazer este Caminho. Interessante comentar que o processo de aquisição de cada carimbo brasileiro na credencial foi diferente do processo europeu. Seja em razão do porte de cada Igreja e/ou Paróquia local, como não são todas que possuem uma secretaria com atendimento ao público, seja pelo baixo envolvimento da comunidade local com Peregrinos e Peregrinas durante o trajeto, recebi a credencial brasileira já com todos os 4 carimbos, cada um representando uma Igreja durante o percurso. Para saber mais sobre a credencial brasileira, acesse o site da ACACSC, atualizado constantemente.

Assim, partimos de carro para Floripa no sábado dia 03/09/2022, cedo, por volta das 5h30 da manhã, não tivemos imprevistos de trânsito pela BR 101, e chegamos às 10h na Paróquia Nossa Senhora do Guadalupe, marco zero do Caminho, onde a secretaria da igreja é um dos lugares presenciais para se adquirir a credencial brasileira, e que aos sábados fica aberta apenas pela manhã. Deu tudo certo, adquirimos as credenciais, e depois disso fomos para o Airbnb que alugamos na Praia de Ingleses, relativamente próximo da chegada, curtimos o dia por ali e arrumei toda a mochila para o dia seguinte com muitas expectativas positivas.

LARGADA E PRIMEIRA ETAPA

No domingo dia 04, fomos de Uber até a largada e começamos a caminhada às 8h30, saindo da Paróquia Nossa Senhora de Guadalupe em Canasvieiras, local representativo do primeiro carimbo. Eu com o mapa em papel mesmo em mãos, o mesmo do folder que está disponível para impressão no site da ACACSC e que recebemos na secretaria da Paróquia de Guadalupe no sábado, e Claudio com o relógio GPS Tom Tom.

Começamos esta primeira parte do trajeto à beira-mar, manhã linda, fria, de céu azul e paisagens deslumbrantes! Um início muito especial para mim, que amo praia, e que estava há mais de 2,5 anos sem ver o Mar brasileiro em razão da pandemia…

Um pouco mais de 3 km depois, a maré subiu e não havia mais faixa de areia para caminharmos no seco, ou seja, tivemos que entrar no Mar, até o joelho, e ultrapassar galhos na restinga para chegarmos até a próxima placa que sinaliza a continuação do Caminho. No folder da ACACSC, esta etapa está citada como sendo um curso d’água. Primeiro desafio da Natureza durante o Caminho superado com sucesso!

Já na rua próxima dali, paramos, tirei as botas, meias, sequei os pés, passei Safe Runners, coloquei meias secas. Apesar de a bota Salomon ser impermeável estava totalmente encharcada. A preocupação aqui foi como seriam os próximos 19k sem ter bolhas nos pés… meu maior trauma já no primeiro dia do Caminho Português.

Seguimos adiante, agora pela estrada, casas, prédios e comércios, bota secando rápido, meias nem tanto, até chegarmos em uma pequena praça a beira-mar, com uma vista linda, e bem próxima da Igreja de São Pedro Ponta das Canas, local que representa o segundo carimbo.

Nesta segunda parte do trajeto, partindo de Ponta das Canas, na Igreja de São Pedro, continuamos pelo asfalto, na Estrada Jornalista Jaime de Arruda Ramos, e a certa altura entramos em uma pitoresca e florida passagem que leva a praia da Lagoinha, belíssima praia também. Neste trecho, todo a beira-mar, a caminhada foi leve, e com paisagens praianas exuberantes e encantadoras.

Ao final da Lagoinha, para passar à Praia Brava, há duas opções de trajeto: ou pela estrada com grau de dificuldade baixo/médio, ou pela trilha do Morro do Rapa com grau de dificuldade médio/alto, mais longo, que pode durar em torno de 1h30, porém com belo visual. Decidimos ir pelo Rapa. O folder da ACACSC explica de forma bastante clara sobre esta trilha rústica. Extra! Extra! Claudio aqui passou a caminhar com seu novo amigo, um cajado de bambu que encontrou pelo Caminho.

Chegar ao topo foi difícil, no meu ponto de vista, mas em compensação a vista é incrível! Havia outras pessoas ali também, curtindo, lanchando, fazendo selfies, e também um aluno de parapente, aguardando o melhor momento do vento para treinar seus voos. Em tempo, ali no topo do Morro também é uma rampa de voo livre. Almoçamos sanduiche e snacks de trilha, bebendo água no Camelback (2L), contemplando sem pressa toda aquela paisagem estonteante, e agradecendo por estarmos vivos, ali, naquele momento especial de conexão com a Natureza e com a gente mesmo! Momentos únicos e raros que o Caminho nos permite vivenciar.

Já descendo a trilha do Morro do Rapa em direção à Praia Brava, parte da trilha bem mais fácil que a da subida, chegamos na estrada novamente, e continuamos caminhando pelo asfalto, rumo ao final da Praia Brava.

No final da Praia Brava encontra-se o Morro das Feiticeiras, onde faz parte do trajeto atravessá-lo em meio à mata para chegar na Praia dos Ingleses, percorrendo uma trilha mais fácil e mais curta que a trilha do Morro do Rapa, com duração média de 45 minutos caminhando.

Chegando na Praia dos Ingleses, penúltima etapa e rumo a Igreja dos Navegantes, caminhamos por toda ela, último trajeto inclusive à beira-mar, curtindo, desacelerando e abrindo o olhar para os detalhes que o Caminho nos permite enxergar, com vistas lindas, pássaros, barulhos do mar, das ondas, ouvindo muitas pessoas falando espanhol, além do Português brasileiro.

E ao final da Praia dos Ingleses, em um pequeno comércio dali, brindamos tomando caldo de cana, momento bem brasileiro neste Caminho.

E nessa energia tão gostosa, chegamos a Igreja Nossa Senhora de Navegantes Ingleses, local representativo do terceiro carimbo.

ÚLTIMA ETAPA

E agora, na última etapa do Caminho e rumo ao Santuário do Sagrado Coração, em uma pequena esquina muito próxima a mesma Igreja de Navegantes, não encontramos uma placa indicativa sobre o próximo trajeto, momento raro, pois todo o restante estava bem sinalizado.

Eis que encontramos ali outras Peregrinas e Peregrinos com a mesma dúvida, onde eles ainda tinham caminhado um pouco mais adiante, sentido Praia do Santinho, e estavam voltando, pois também não encontraram novas placas. Instantaneamente nos juntamos, conversamos, revemos o mapa e os GPS, e aí sim, entendemos que o próximo trajeto era pelo asfalto mesmo na Avenida Dom João Becker, e continuamos caminhando muito animados, nos conhecendo e fomos indo todos juntos até o Santuário.

Foi demais encontrá-los e compartilhar os quilômetros finais do Caminho brasileiro de Santiago de Compostela, antes de chegarmos finalmente no local que representa o último carimbo: o Santuário do Sagrado Coração de Jesus Ingleses.

E tudo isso após 22 km caminhando durante aproximadamente 7 horas e 30 minutos!

Chegando lá, senti novamente aquela sensação gostosa de alcançar um objetivo muito desejado, de fazer o que gosto, de estar comigo mesma, em meio à Natureza, com saúde física e mental, e muito feliz agradecendo por estar Viva neste pós-pandemia, em companhia do Marido, e ainda conhecendo novas pessoas!

Entramos no Santuário, cada um em seu momento pessoal e com suas próprias crenças, e de formas diferentes cada um e cada uma agradeceu imensamente por estar ali!

Momentos muito especiais que vivi nestas novas trilhas da Vida, e fiz questão de escrever neste artigo para poder compartilhar esses sentimentos e emoções tão especiais e positivos com você que está lendo neste momento, até o final.

Por fim, fica o convite para você fazer também o Caminho brasileiro de Santiago de Compostela, seja para conhecê-lo, seja como treino para os Caminhos de Santiago europeus ou outras rotas de peregrinação pelo Brasil ou pelo Mundo, e permitir-se ter suas próprias experiências que – com certeza – este Caminho brasileiro irá te oferecer.

Buen Camino! 🙏

P.S.: como comentei no início do texto, eu amo praia e estava há mais de 2,5 anos sem entrar no mar em razão da pandemia. E antes de voltar para o apartamento, dei um mergulho gostoso na água gelada de Ingleses, que foi extremamente renovador!

Fabiana Schneider

Mentora de Carreira e Headhunter com mais de 20 anos de experiência profissional em empresas nacional e multinacional atuando em áreas de Recrutamento e Seleção, Treinamento e Desenvolvimento, Comercial e Educação Executiva. Nos últimos anos está empreendendo através da Trilhas da Carreira atuando como Mentora e Consultora de Carreira para profissionais, como Headhunter para empresas, além de Expert em LinkedIn, palestrante e professora de R&S. É graduada em Administração de Empresas com MBA Executivo em Marketing, certificada DISC e Orientação Profissional. Filha de Pai TI e Mãe Professora, casada com Claudio Cercachim, Mãe da Nathalia, maratonista, peregrina, apaixonada por pessoas e entusiasta pela tecnologia.

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